quarta-feira, 18 de julho de 2012

Unidade de Pronto Atendimento Veterinário – Vamos Pensar!

Por Edu Marcondes


Uma renomada coluna, de um importante jornal do interior do estado, em sua edição do ultimo sábado – 14/07/2012, trouxe uma noticia, que de imediato remeteu a reflexão sobre qual rumo a medicina veterinária irá tomar no futuro.

A noticia era de que em breve a prefeitura da capital de Mato Grosso do Sul, iria implantar uma Unidade de Pronto Atendimento Veterinário 24hs, e em tom sarcástico dizia: “chique no ultimo...!”.

Com relação a essa informação é de imediato necessário que seja feito um pensamento coletivo de todos os médicos veterinários do país acerca de como irão conduzir a profissão. Sim porque é óbvio que para a prefeitura de Campo Grande assumir esse projeto ele teve que no mínimo ter tido o aval dos profissionais que lá atuam.

Do um ponto de vista simplista, ao ler uma informação dessas pode-se comemorar um crescimento da profissão e um ganho para a população, sobretudo para aqueles que são apaixonados pelos animais e simplesmente condenam de todas as formas a eutanásia.

O funcionamento de uma unidade dessa magnitude em tese pode levar a um atendimento em massa de população de animais de pessoas carentes, e provavelmente uma série de outras boas intenções que possam estar no projeto, mas que não foram descritas na coluna.

Muito bem, tudo isso é salutar e importante, mas é preciso também que todo médico veterinário comece a sair um pouco de sua rotina cotidiana, e passe a ter uma visão mais global das coisas, para que não se desconstrua uma luta de anos que trouxe a profissão até o momento de inserção definitiva como profissão de saúde pública. Uma unidade como essa pode simplesmente em questão de meses por tudo a perder, e pior fazer a medicina veterinária perder o bonde da história.

Quando se propõe uma UPA-Vet, como essas fica evidente que a medicina veterinária, não entende nada da gestão do sistema, e não tem a mínima sensibilidade para os problemas do SUS. Com isso, a profissão estará dando munição de grosso calibre para as demais profissões de saúde atirem e rapidamente a excluam do sistema.

O SUS é deficiente em recursos de todas as esferas, o nível de exigência de atendimento é cada vez maior, e por mais que os médicos veterinários, e protetores busquem para os animais a mesma condição de atendimento dos seres humanos, isso ainda é uma realidade bastante distante. Não se pode ter a ilusão de que em se tendo um recurso público para investimento em saúde, esse direcionado aos cães e gatos, em detrimento das despesas com os programas para as pessoas.

A própria sociedade está longe de estar preparada para essa realidade. Buscar a liberdade de tratamento e a possibilidade para que os interessados possam cuidar de seus companheiros é justo e humano. Mas da mesma forma é justo e humano, preservar a vida das pessoas que não tem condições  ou não querem mais seus animais. Eutanásia indiscriminada deve ser tratada como crime, mas deve-se a consciência que simplesmente acabar com ela pode ser um crime da mesma magnitude.

O principio do convívio humano, deve ser pautado pelo respeito mutuo e aceitação das condições individuais. Para a profissão, de forma institucional, tomar um caminho único figura-se num erro craso. Ao se propor uma UPA-VET, a medicina veterinária estará vulnerável ao fato que o gestor possa alegar falta de recursos e simplesmente acabar com isso, e ainda apontar e dizer que é inviável o médico veterinário estar inserido na saúde pública, e sob a ótica da gestão com certa razão.

A medicina veterinária precisa urgentemente abrir sua visão, atuar de maneira forte na promoção da saúde, no apoio matricial, criando articulações com instituições de ensino e entidades filantrópicas e ong´s que atuem nesse ramo. Se houver isso as eutanásias diminuirão, as doenças diminuirão, a posse responsável passará a ser mais valorizada. A profissão será relevante para a sociedade e será com isso respeitada e valorizada.

Querer criar um SUS – VET pode ser um erro estratégico sem precedentes, e a profissão poderá ao invés de avançar, ser relegada a segundo plano dentro do sistema de forma que tudo que foi conquistado com muita luta e sacrifício torne-se em vão.

 Assim como uma espécie, não querer suplantar ou substituir a outra, a medicina veterinária não deve querer se colocar no lugar das outras. Deve sim mostrar seu valor e sua relevância, afinal de contas se cada um fizer com maestria sua parte todos serão importantes dentro de suas características. O lema deve ser: PROMOÇÃO A SAÚDE, E NÃO ATENÇÃO VET!!!!  

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