Uma renomada coluna, de um importante jornal do
interior do estado, em sua edição do ultimo sábado – 14/07/2012, trouxe uma
noticia, que de imediato remeteu a reflexão sobre qual rumo a medicina
veterinária irá tomar no futuro.
A noticia era de que em breve a prefeitura da
capital de Mato Grosso do Sul, iria implantar uma Unidade de Pronto Atendimento
Veterinário 24hs, e em tom sarcástico dizia: “chique no ultimo...!”.
Com relação a essa informação é de imediato necessário
que seja feito um pensamento coletivo de todos os médicos veterinários do país
acerca de como irão conduzir a profissão. Sim porque é óbvio que para a
prefeitura de Campo Grande assumir esse projeto ele teve que no mínimo ter tido
o aval dos profissionais que lá atuam.
Do um ponto de vista simplista, ao ler uma
informação dessas pode-se comemorar um crescimento da profissão e um ganho para
a população, sobretudo para aqueles que são apaixonados pelos animais e
simplesmente condenam de todas as formas a eutanásia.
O funcionamento de uma unidade dessa magnitude em
tese pode levar a um atendimento em massa de população de animais de pessoas
carentes, e provavelmente uma série de outras boas intenções que possam estar
no projeto, mas que não foram descritas na coluna.
Muito bem, tudo isso é salutar e importante, mas
é preciso também que todo médico veterinário comece a sair um pouco de sua
rotina cotidiana, e passe a ter uma visão mais global das coisas, para que não
se desconstrua uma luta de anos que trouxe a profissão até o momento de
inserção definitiva como profissão de saúde pública. Uma unidade como essa pode
simplesmente em questão de meses por tudo a perder, e pior fazer a medicina
veterinária perder o bonde da história.
Quando se propõe uma UPA-Vet, como essas fica
evidente que a medicina veterinária, não entende nada da gestão do sistema, e
não tem a mínima sensibilidade para os problemas do SUS. Com isso, a profissão
estará dando munição de grosso calibre para as demais profissões de saúde
atirem e rapidamente a excluam do sistema.
O SUS é deficiente em recursos de todas as
esferas, o nível de exigência de atendimento é cada vez maior, e por mais que
os médicos veterinários, e protetores busquem para os animais a mesma condição
de atendimento dos seres humanos, isso ainda é uma realidade bastante distante.
Não se pode ter a ilusão de que em se tendo um recurso público para
investimento em saúde, esse direcionado aos cães e gatos, em detrimento das
despesas com os programas para as pessoas.
A própria sociedade está longe de estar preparada
para essa realidade. Buscar a liberdade de tratamento e a possibilidade para
que os interessados possam cuidar de seus companheiros é justo e humano. Mas da
mesma forma é justo e humano, preservar a vida das pessoas que não tem
condições ou não querem mais seus
animais. Eutanásia indiscriminada deve ser tratada como crime, mas deve-se a consciência
que simplesmente acabar com ela pode ser um crime da mesma magnitude.
O principio do convívio humano, deve ser pautado
pelo respeito mutuo e aceitação das condições individuais. Para a profissão, de
forma institucional, tomar um caminho único figura-se num erro craso. Ao se
propor uma UPA-VET, a medicina veterinária estará vulnerável ao fato que o
gestor possa alegar falta de recursos e simplesmente acabar com isso, e ainda
apontar e dizer que é inviável o médico veterinário estar inserido na saúde
pública, e sob a ótica da gestão com certa razão.
A medicina veterinária precisa urgentemente abrir
sua visão, atuar de maneira forte na promoção da saúde, no apoio matricial,
criando articulações com instituições de ensino e entidades filantrópicas e
ong´s que atuem nesse ramo. Se houver isso as eutanásias diminuirão, as doenças
diminuirão, a posse responsável passará a ser mais valorizada. A profissão será
relevante para a sociedade e será com isso respeitada e valorizada.
Querer criar um SUS – VET pode ser um erro
estratégico sem precedentes, e a profissão poderá ao invés de avançar, ser
relegada a segundo plano dentro do sistema de forma que tudo que foi
conquistado com muita luta e sacrifício torne-se em vão.
Assim como
uma espécie, não querer suplantar ou substituir a outra, a medicina veterinária
não deve querer se colocar no lugar das outras. Deve sim mostrar seu valor e
sua relevância, afinal de contas se cada um fizer com maestria sua parte todos
serão importantes dentro de suas características. O lema deve ser: PROMOÇÃO A
SAÚDE, E NÃO ATENÇÃO VET!!!!
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