quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nervosinhos têm o pior câncer

Por Alysson Muotri | categoria Espiral -

Relaxe. Se você é do tipo constantemente preocupado, que briga no transito, discute com o porteiro e se incomoda com o troco em moedas é melhor mudar de atitude o quanto antes. Um estudo publicado em abril pela revista científica “PLoS ONE” mostrou que camundongos com níveis altos de estresse e ansiedade são aqueles que adquirem tipos mais agressivos de câncer de pele depois de exposição a luz ultravioleta.

O diagnóstico e o próprio tratamento de qualquer tipo de câncer já são estressantes por si só. Mas o novo estudo mostra que a personalidade estressada e ansiosa prévia pode agravar a situação, acelerando o processo cancerígeno e perpetuando um ciclo que tende a piorar o quadro clínico.

 
A correlação foi descoberta quando o grupo da Universidade de Stanford, na Califórnia, liderado por Firdaus Dhgabhar, estudava os níveis naturais de estresse de camundongos colocando-os em um labirinto cheio de passagens falsas. Animais que se aventuram menos pelas áreas escuras e desconhecidas são considerados mais ansiosos e estressados do que aqueles que estavam dispostos a explorar calmamente o novo ambiente. O estresse foi confirmado pelos altos níveis de um hormônio que responde a essas situações específicas, a corticosterona. Em seguida, grupos de animais mais e menos estressados foram submetidos a três doses semanais, de dez minutos cada, de luz ultravioleta, por um período de dez semanas. Seria uma dose de luz ultravioleta equivalente àquelas recebidas pelos desavisados que passam muito tempo na praia sem protetor solar. Como os animais testados não têm pelos, acabam sendo mais susceptíveis a câncer de pele. Eventualmente, depois das sessões, todos os animais desenvolveram câncer de pele. Porém, o grupo dos estressadinhos e ansiosos apresentou mais tumores sólidos, além de um tipo de câncer mais agressivo e invasivo. Os estressados também tinham um número aumentado de células T reguladoras no sangue, associadas à inibição do ataque do sistema imune contra o câncer.

 
A conexão entre ansiedade e a baixa no mecanismo de defesa do sistema imune é muito bem estabelecida, mas, pela primeira vez, a agressividade do câncer está sendo biologicamente correlacionada com a personalidade altamente ansiosa. A ansiedade pode ser definida como uma sensibilidade extrema à existência de fatores estressantes que sejam percebidos ou antecipados pelo individuo. Já a relação do sistema imune com o estresse é mais complicada. Pode-se dizer que existem dois tipos de estresse, um bom e um ruim. Estresse por um período curto de tempo, como passar por uma prova ou participar de algum teste, pode aumentar a eficácia do seu sistema imune, pois prepara o organismo para a “luta”. Por outro lado, o estresse constante, ocasionado pela perda de um ente querido por exemplo, tende a enfraquecer o sistema imune, afetando a capacidade do organismo de lutar contra alguma doença. Mas qual é o limite saudável do estresse? Como essa resposta é variável e altamente subjetiva, diversos pesquisadores têm optado por trabalhar com ansiedade.

 
No caso dos camundongos, o estresse vem do equilíbrio entre explorar um ambiente novo em busca de comida e, ao mesmo tempo, tentar se proteger de perigos em potencial presentes num lugar desconhecido. É lógico que, em humanos, o problema é mais complexo e, por isso mesmo, a pesquisa precisa ser validada em pessoas. De qualquer forma, as evidências experimentais nos modelos animais são claras e devem ser levadas em consideração no tratamento do câncer. Segundo o estudo, a recuperação de pacientes com câncer deve ser mais efetiva se reduzirmos o estresse e ansiedade que surgem durante o diagnóstico e tratamento. O uso de drogas ansiolíticas, como o Valium, e de terapias comportamentais por um período curto de tempo surge como uma opção.

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