Quis o destino que justamente eu fosse o
responsável por fechar e divulgar o primeiro caso de leishmaniose visceral em
humanos em Dourados-Ms. Confesso que talvez tenha sido até aqui, o momento mais
tenso que vivi em saúde publica. Definitivamente não é fácil atuar em um
momento desses.
É bem verdade que algumas pessoas, sobretudo
gestores públicos – políticos – brincam com a vida das pessoas, e acabam
cedendo a qualquer pressãozinha de grupos com interesses pessoais, e deixam de
fazer o que de fato deve ser feito. Mas para os técnicos que dedicam suas vidas
profissionais inteiras em prol da saúde das pessoas, momentos como o de ontem
são bastante críticos.
Mas como tudo na vida sempre tem o lado a ser
considerado positivo. Temos que manter a esperança e o afinco sempre, e
principalmente temos que ter fé e amor ao que fazemos. Se for para fazer algo
sem a dedicação e paixão devida é melhor que não seja feito.
As equipes de saúde de Dourados-Ms, tem feito
tudo com muita paixão e talvez aí esteja o principal motivo pelos quais a
cidade tem se mantido com muito bons níveis de referência em saúde pública.
Talvez por isso tenha-se chegado ao diagnóstico de um caso que cientificamente já
deveria ter ocorrido em nossa cidade a um bom tempo.
Dourados tem um programa muito bem consolidado de
controle da doença que vem fazendo o monitoramento da Leishmaniose desde 2003,
e aqui há que se fazer um referencia toda especial a bióloga Magda Freitas
Fernandes e sua equipe, que enquanto esteve a frente da coordenação do CCZ, deu
inicio a todo esse trabalho.
Quantas cidades no Brasil, chegam ao diagnóstico
da leishmaniose e de outras doenças, e sequer sabem o que fazer, sequer tem
medicação, evacuação ou local e pessoal preparado para atender um caso desses. Fomos
e somos privilegiados, por termos tido rapidamente um pronto atendimento ao
paciente que em poucos dias estava em casa e curado. Em reação imediata toda a ação
de vigilância epidemiológica foi desencadeada, ações de bloqueio químico e
mecânico, amparo técnico à família e ações de educação em saúde foram
paralelamente executadas.
Em nossa cidade não ficou-se esperando para ver o
que estava acontecendo. Fruto obviamente desse monitoramento e preparo técnico
das equipes e do suporte do HU, através da equipe de infectologia, e tudo isso
iniciado pela Magda a quase 10 anos.
Me lembro nesse momento de uma frase da minha
época de exército, que aplica-se bem a esse fato: “Se queres a paz, prepara-se
para a guerra”. Temos que estar sempre preparados e agindo para prevenir as
doenças, para que quando surgirem não causem estragos maiores, como foi esse o
caso; Pena que nem todos os políticos pensem assim.
Para o futuro, fatalmente novos casos virão, mas
podemos ter a consciência plena de que enquanto tivermos equipes preparadas e
com o afinco que nossos profissionais vem demonstrando, certamente teremos o
poder público fazendo o seu papel. Cabe agora reforçar a mensagem de que sem o
vetor, não há a doença, e que quem não quer seu filho doente, deve
imediatamente tratar de limpar seu quintal.
É difícil, as condições de urbanidade de nossas
cidades são caóticas, e os gestores agem a passos lentos nesse sentido, de
forma que a gestão ambiental, passa a se apresentar como um fator social e
comunitário. Não dá mais para esperar, cada um deve fazer sua parte, cada deve
cuidar de sua casa. Se fizermos isso diminuiremos consideravelmente a leishmaniose,
a Dengue e todas as doenças de transmissão vetorial.
Não dá mais para morarmos, literalmente no lixo,
em meio a ratos, baratas, mosquitos e ficarmos sofrendo em filas, e depois
ficar jogando a culpa no SUS. O Sistema está nos mostrando o caminho, cabe a
nós cada cidadão Douradense, fazermos a nossa parte!!
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