quinta-feira, 11 de julho de 2013

VERSUS – Formação do Profissional para o SUS

Por Edu Marcondes


O projeto VERSUS, teve inicio no começo dos anos 2000, com a finalidade de levar acadêmicos de medicina a conhecer o funcionamento do SUS na prática. Consiste em que esses alunos visitem o SUS em suas unidades de todas suas complexidades de cidades do interior.

Tivemos o prazer de receber no Departamento de Vigilância em Saúde de Dourados, um grupo formado por 14 desses alunos que estão visitando a rede se saúde do nosso município. Onde pôde ser observado que diferente do inicio do projeto, hoje em dia os grupos são compostos por alunos das mais diferentes profissões da saúde.

Nesse grupo estavam acadêmicos de medicina, psicologia, farmácia, enfermagem e biologia. Para minha tristeza, mas não surpresa obviamente não tinha nenhum acadêmico de medicina veterinária. E digo obviamente porque é claro e evidente o estereótipo que minha profissão tem, sobretudo provocada ela mesmo.

Já que a medicina veterinária, apesar de toda a oportunidade escancarada a sua frente, faz questão de não se assumir efetivamente como profissão de saúde, tratemos de discorrer sobre o grupo que esteve interessado em conhecer nosso SUS.

Primeiro é de destacar a relevância desse projeto, já que justamente o que temos batido exaustivamente, é que os profissionais de saúde que hoje atuam, pouco ou nada conhecem do SUS; E, portanto ao invés de trazer as soluções apenas empacam as demandas que efetivamente precisam ser assumidas.

Ao estar presente junto a futuros colegas que adentrarão ao SUS logo, logo. Entusiasma perceber que pelo menos alguns futuros profissionais estarão sabendo onde irão pisar, e principalmente o que a sociedade realmente espera deles. Outro fato de destaque é a presença de diversas profissões envolvidas, com um conceito realmente de saúde global.

Mais entusiasmaste ainda é perceber o interesse deles em conhecer a vigilância em saúde enquanto segmento do sistema, e parte integrante da rede de atenção efetivamente composta em nosso município. Por outro lado foi frustrante perceber que diferente do inicio do projeto hoje dos 14 participantes, havia apenas 1 acadêmico de medicina.

Ainda que a saúde que busca, pautada na qualidade de vida e no ambiente saudável, fazendo uma efetiva saúde global; O médico não é mais profissional exclusivo que a garanta; Obviamente que é ainda, e sempre será o profissional fundamental em qualquer conceito de saúde.  De forma que se ele não mais exclusivo, sempre será fundamental.

Dentre as diversas coisas de vigilância que foram apresentadas aos alunos, podem-se destacar alguns pontos importantes. A conceituação histórica de vigilância sanitária X Vigilância epidemiológica, que culminaram com o moderno conceito de vigilância em saúde, composta por quatro segmentos distintos e integrados: sanitária, epidemiológica, ambiental e ocupacional.

A inserção desses segmentos de forma única (vigilância em saúde) a rede de atenção do município. O papel da vigilância no terreno e sua atuação integrada com a atenção. As resistências que a população em geral, os gestores políticos e os profissionais de saúde ainda tem em entender o papel que vigilância deve ter como direcionador das ações de saúde da rede.

Pôde-se em conjunto, e talvez tenha sido a parte mais gratificante da visita, refletir sobre alguns entraves do dia a dia.  É claro e evidente que o programa de ESF, por exemplo, é solidificado no conceito de saúde global e familiar, onde o profissional de saúde deve conhecer as famílias de seu território na essência e direcionar suas atividades corriqueiras segundo indicadores epidemiológicos de seu território.

Em primeiro lugar os alunos identificaram que muito pouco ou quase nunca isso ocorre nas unidades, e quando ocorre, via de regra a equipe de ESF se pauta por casos práticos baseado em observações empíricas. O que é evidentemente muito diferente de uma informação epidemiológica devidamente comprovada e tabulada estatisticamente pela vigilância.

Ademais eles identificaram também que pouco ou quase nunca se observa uma ESF ativa; Via de regra as equipes, desde médicos até os agentes ficam nas unidades a espera da chegada do paciente, ou quando muito nossos agentes comunitários tem se tornado meros correios de exames e marcações.

Nessas épocas de grande debate sobre a falta de estrutura do SUS, no debate tornou-se evidente que a falta de conhecimento do sistema leva a comentários distorcidos; Pois como já dito no ESF, os profissionais devem sair da “casinha” e ir ao encontro de seus pacientes, conhecerem suas famílias, orientá-los e tratá-los preventivamente. E para isso definitivamente não precisa de muitos equipamentos ou muito dinheiro.

Basta que cada um conheça exatamente seu papel no sistema e ajude com soluções. Que se levante da cadeira e faça saúde publica. Não dá para imaginar que se vai trabalhar na atenção primária de saúde (vigilância e atenção básica) e fazer a mesma coisa que se faz num consultório particular ou num hospital de alta complexidade.


Fica ainda no rescaldo da visita, que nem tudo está perdido, que o SUS não é só a desgraça propalada diariamente pelos meios de comunicação. Que existe muita coisa boa e muita gente boa; e que eles acadêmicos interessados certamente ajudarão num futuro próximo que todo o esforço que nos trouxe até aqui seja perpetuado, mesmo com as dificuldades cotidianas. 

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