Por Edu Marcondes
O projeto VERSUS, teve inicio no começo dos anos
2000, com a finalidade de levar acadêmicos de medicina a conhecer o
funcionamento do SUS na prática. Consiste em que esses alunos visitem o SUS em
suas unidades de todas suas complexidades de cidades do interior.
Tivemos o prazer de receber no Departamento de
Vigilância em Saúde de Dourados, um grupo formado por 14 desses alunos que
estão visitando a rede se saúde do nosso município. Onde pôde ser observado que
diferente do inicio do projeto, hoje em dia os grupos são compostos por alunos
das mais diferentes profissões da saúde.
Nesse grupo estavam acadêmicos de medicina,
psicologia, farmácia, enfermagem e biologia. Para minha tristeza, mas não surpresa
obviamente não tinha nenhum acadêmico de medicina veterinária. E digo
obviamente porque é claro e evidente o estereótipo que minha profissão tem,
sobretudo provocada ela mesmo.
Já que a medicina veterinária, apesar de toda a
oportunidade escancarada a sua frente, faz questão de não se assumir
efetivamente como profissão de saúde, tratemos de discorrer sobre o grupo que
esteve interessado em conhecer nosso SUS.
Primeiro é de destacar a relevância desse projeto,
já que justamente o que temos batido exaustivamente, é que os profissionais de
saúde que hoje atuam, pouco ou nada conhecem do SUS; E, portanto ao invés de
trazer as soluções apenas empacam as demandas que efetivamente precisam ser
assumidas.
Ao estar presente junto a futuros colegas que adentrarão
ao SUS logo, logo. Entusiasma perceber que pelo menos alguns futuros
profissionais estarão sabendo onde irão pisar, e principalmente o que a
sociedade realmente espera deles. Outro fato de destaque é a presença de
diversas profissões envolvidas, com um conceito realmente de saúde global.
Mais entusiasmaste ainda é perceber o interesse
deles em conhecer a vigilância em saúde enquanto segmento do sistema, e parte
integrante da rede de atenção efetivamente composta em nosso município. Por
outro lado foi frustrante perceber que diferente do inicio do projeto hoje dos
14 participantes, havia apenas 1 acadêmico de medicina.
Ainda que a saúde que busca, pautada na qualidade
de vida e no ambiente saudável, fazendo uma efetiva saúde global; O médico não
é mais profissional exclusivo que a garanta; Obviamente que é ainda, e sempre
será o profissional fundamental em qualquer conceito de saúde. De forma que se ele não mais exclusivo, sempre
será fundamental.
Dentre as diversas coisas de vigilância que foram
apresentadas aos alunos, podem-se destacar alguns pontos importantes. A conceituação
histórica de vigilância sanitária X Vigilância epidemiológica, que culminaram
com o moderno conceito de vigilância em saúde, composta por quatro segmentos
distintos e integrados: sanitária, epidemiológica, ambiental e ocupacional.
A inserção desses segmentos de forma única (vigilância
em saúde) a rede de atenção do município. O papel da vigilância no terreno e
sua atuação integrada com a atenção. As resistências que a população em geral,
os gestores políticos e os profissionais de saúde ainda tem em entender o papel
que vigilância deve ter como direcionador das ações de saúde da rede.
Pôde-se em conjunto, e talvez tenha sido a parte
mais gratificante da visita, refletir sobre alguns entraves do dia a dia. É claro e evidente que o programa de ESF, por
exemplo, é solidificado no conceito de saúde global e familiar, onde o
profissional de saúde deve conhecer as famílias de seu território na essência e
direcionar suas atividades corriqueiras segundo indicadores epidemiológicos de
seu território.
Em primeiro lugar os alunos identificaram que
muito pouco ou quase nunca isso ocorre nas unidades, e quando ocorre, via de regra
a equipe de ESF se pauta por casos práticos baseado em observações empíricas. O
que é evidentemente muito diferente de uma informação epidemiológica devidamente
comprovada e tabulada estatisticamente pela vigilância.
Ademais eles identificaram também que pouco ou
quase nunca se observa uma ESF ativa; Via de regra as equipes, desde médicos
até os agentes ficam nas unidades a espera da chegada do paciente, ou quando
muito nossos agentes comunitários tem se tornado meros correios de exames e
marcações.
Nessas épocas de grande debate sobre a falta de
estrutura do SUS, no debate tornou-se evidente que a falta de conhecimento do
sistema leva a comentários distorcidos; Pois como já dito no ESF, os
profissionais devem sair da “casinha” e ir ao encontro de seus pacientes, conhecerem
suas famílias, orientá-los e tratá-los preventivamente. E para isso
definitivamente não precisa de muitos equipamentos ou muito dinheiro.
Basta que cada um conheça exatamente seu papel no
sistema e ajude com soluções. Que se levante da cadeira e faça saúde publica.
Não dá para imaginar que se vai trabalhar na atenção primária de saúde
(vigilância e atenção básica) e fazer a mesma coisa que se faz num consultório
particular ou num hospital de alta complexidade.
Fica ainda no rescaldo da visita, que nem tudo
está perdido, que o SUS não é só a desgraça propalada diariamente pelos meios
de comunicação. Que existe muita coisa boa e muita gente boa; e que eles acadêmicos
interessados certamente ajudarão num futuro próximo que todo o esforço que nos
trouxe até aqui seja perpetuado, mesmo com as dificuldades cotidianas.
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