Por Edu Marcondes
Ontem foi um dia agitado para o combate a Dengue
no município de Dourados-Ms. O famoso e conhecido dia D. Quando comecei a
trabalhar na secretaria municipal de saúde em 2007, esse dia D, acontecia apenas
uma vez por ano, no inicio do período de chuvas.
Mutirões e mobilizações aconteciam vez por outra.
Isso me intrigava; Todos sabem que a Dengue é uma doença de transmissão
vetorial com grande adaptação urbana no modelo de vida de nossa sociedade
atual. O Aedes aegipty está no nosso meio, e o trabalho de eliminação desse mosquito
não pode acontecer apenas uma vez por ano.
Até onde sei o mosquito não conhece calendário
nem respeita regra. Ninguém nunca o avisou que de a partir de novembro ele deve
dormir pra não propalar o vírus pela população.
É importante que haja uma mudança de comportamento
constante e progressivo de toda a população. Os dias “D” na verdade devem ter o
objetivo de servir como lembrete para o povo. É como se poder público alertasse
a população que ela está descuidando do mosquito.
É claro e cientificamente comprovado que a Dengue
ocorre durante o ano todo e que ela não acaba. Não existe erradicação de
doença, portanto devemos aprender a conviver com ela. Temos que desenvolver
forma de manter as pessoas permanentemente engajadas no sentido de evitar a
proliferação do Aedes de forma descontrolada.
A história tem demonstrado que essa é a forma mais
contundente e efetiva de manter a Dengue sob controle, com níveis aceitáveis de
casos notificados e principalmente sem óbitos evitáveis. Porém o controle de
infestação vetorial é a única forma viável de controle.
Nesse ponto fica evidente que a política pública
de saúde está enviesada e dá atenção prioritária ao tratamento e não a
prevenção e controle vetorial. O Programa Nacional de Combate a Dengue (PNCD),
que apesar de ser um ótimo programa, possui exorbitantes falhas que acabam por
inverter a lógica de controle da doença.
Pelo PNCD, a base de prevenção da doença se dá
por visitas domiciliares, o que é inquestionável; Contudo a forma de realização
dessas visitas de forma engessada e fixa em um micro-território tem se mostrado
cheio de falhas já que possibilita diversos vícios de agentes com moradores,
além de estar limitando demasiadamente as visitas em torno de 20 por dia, o que
nem sempre é suficiente para uma prevenção efetiva.
Outra falha é crer que a visita domiciliar irá
resolver o problema. Na verdade, a visita é, e deve ser feita com o conceito
básico de vigilância em saúde, ou seja, identificar os focos de risco e
orientar o morador para melhor se prevenir. Lembrem-se que se tudo correr muito
bem, as visitas ocorrer no mesmo domicilio 1 vez a cada 60 dias, e que o ciclo
do mosquito se renova a cada 15 dias em média.
Por isso definitivamente as visitas, tem o
objetivo de monitoramento e de orientação. Ela não resolve o problema! Então porque
encarar o PNCD, como se fosse uma bíblia, engessada e intransigente.
As equipes em Dourados-Ms captaram essa idéia e
tem trabalhado de forma intensiva, com grande mobilidade no território e de
forma permanente. Em nossa cidade, não existe apenas 1 dia D no ano, e
mobilizações apenas nos períodos de epidemia.
Por aqui as ações compartilhadas são semanais, os
mutirões e mobilização são utilizados a qualquer sinal de aumento de infestação
vetorial e os dias D, a cada novo Levantamento de Índice Rápido – LIRA, para
baixar com agilidade os focos nas regiões com maior concentração.
Desse modo e não por acaso a prevenção
desempenhada pelos agentes de endemias, e agentes comunitários de saúde, de
forma articulada e permanente no território; aliado a aplicação constante da
lei da Dengue, tem causado a mudança de comportamento da população e conseqüentemente
tem mantido a doença sob controle na cidade.
Portando ao registrar o ótimo trabalho
desempenhado por todos os agentes envolvidos nessa ação permanente, fica a
necessidade de manutenção dessas atividades para que Dourados-Ms continue na
traseira do estado quando o assunto é casos de Dengue.