Por Edu Marcondes
Falar das equipes de saúde que compõe o sistema é mexer um
vespeiro. Um assunto pra lá de melindroso, já que tudo que possa ser descrito,
definitivamente não unânime, muito pelo contrário. Como em todos os setores da
sociedade, existem excelentes pessoas e grupos. Mas existem outros que nem
tanto. Num grande sistema democrático como é o SUS, isso é bastante evidente,
sobretudo devido aos diversos interesses pessoais, políticos, de grupos e de
sofrimento para as famílias. Para cada pessoa o sofrimento de um ente querido é
maior do mundo, ainda que exista outro de maior gravidade. Lidar com isso
respeitando um dos princípios doutrinários da saúde pública – A EQUIDADE – é coisa
bastante difícil.
Infelizmente muitos grupos de profissionais se aproveitam da
importância de seu trabalho para se promover de várias formas. Politicamente é
a mais comum. O que vemos de profissionais se aventurando em candidaturas
política em nome da saúde é uma verdadeira febre. Outros se aliam a grupos
sindicais, e associativos para promoção na carreira e salarial. Colocam
literalmente a faca no pescoço da gestão em nome de suas categorias e cobram
situações a qualquer custo;
Lutar por melhorias de trabalho é licito e necessário; deve
ser feito com afinco. Porém colocar isso acima da premissa básica de
cumprimento do seu dever institucional e ético é imoral. Expõem as pessoas a
sofrimento desnecessário e principalmente coloca todo o sistema a mercê de
agentes políticos que se aproveitam dessas situações para se promover. Alguma
parcela dos profissionais de saúde de hoje, já não tem mais o vinculo ético com
o papel que representam. Esqueceu-se definitivamente que devem antes de qualquer
coisa, e sob qualquer condição prestar o atendimento a população. Isso feito ai
sim devem “lutar” para as melhorias que forem necessárias.
É bonito de ver situações, onde associações de profissionais
de saúde humanitárias prestam atendimento em lugares remotos e em condições
completamente piores do que as que vemos hoje em nosso sistema. Claro e óbvio
que não se deve contentar com situações de calamidade para basear a estrutura
do SUS, contudo a todo o momento, trazer interrupção de atendimentos por falta
de um foco luz queimada, enquanto esse está em manutenção – Por exemplo – deve
ser uma conduta das mais reprováveis. Infelizmente isso tem sido a conduta mais
comum observada hoje.
“Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas sim o
que você pode fazer pelo seu país” – presidente Kennedy dos EUA. Essa frase representa uma premissa ética da
saúde pública que hoje em dia ninguém se lembra mais. As condições sabidamente
não são e provavelmente nunca serão as ideais, mas os profissionais de saúde
não devem em momento algum, por obrigação ética, esquecer que as pessoas
dependem deles. Não é possível que essas pessoas não estejam completamente
envolvidas com o que o sistema pode oferecer. O problema é que se buscam
situações e condições as quais o SUS, não está preparado para executar. E ao
invés de ser construídos sob as condições legais, parte-se para as suspensões
dos serviços e a pressões políticas. Isso encontra o eco com agentes políticos
mal intencionados e cria-se assim o colapso da saúde pública. Que
definitivamente não existe.
Reparem bem que muitas entidades filantrópicas contratualizadas
pelo sistema permanecem silenciosas até precisarem de mais recursos. É isso
acontecer, que se iniciam uma série de suspensões, de matérias na imprensa e de
criação de uma situação de “emergência”. Basta que a nova negociação de
contrato seja realizada com aumento de valores para que essas “emergências”,
como que num passe mágica sumam. A mesma coisa tem acontecido com freqüência na
atenção básica. Só que nesse caso geralmente está pautada por pequenos
interesses individuais que de grupos profissionais. Basta o gestor ceder à
pressão para que o colapso da saúde desapareça.
Mais um fator importante é o distanciamento que os
profissionais de saúde têm da gestão pública. Mesmo, muitos que fazem parte da
gestão, não conhecem definitivamente nada das etapas e aspectos legais da
gestão pública. Não entendem, ou não querem entender, que a saúde apesar de
suas características deve seguir todo o rito legal que regem a gestão pública.
Se planejar e pensar a saúde em longo prazo, sabendo que uma proposta de hoje,
somente será consolidada no futuro, é um horizonte longínquo.
Alguns colegas têm debatido com freqüência de que forma pode-se
lidar com os profissionais de hoje. Em um sistema gigante, e com tamanha complexidade.
Numa realidade como a descrita, sem comprometimento e sem o conhecimento do seu
papel. Sem princípios éticos. A resposta é difícil, e sem muitas alternativas;
sendo que um caminho imediato é o profissionalismo e a rigidez na aplicação dos
estatutos dos servidores, e a institucionalização das secretarias de saúde. Tentar
fazer que cada um assuma e entenda o seu papel no sistema, pode ser o primeiro
passo, assim como tentar evitar os interesses sufoquem ainda mais a população
que de fato necessita.